terça-feira, 29 de janeiro de 2019

SEMANA DO CONSAGRADO

A propósito da Semana do Consagrado, uma reflexão do Pe Jaime Cruz


SÃO VICENTE DE PAULO E A VIDA CONSAGRADA

“ É próprio dos grandes corações descobrir a principal necessidade dos tempos em que vivem e consagrar-se à sua solução”.

Aplicando a S. Vicente de Paulo esta densa afirmação de Lacordaire e mergulhando o mais possível em suas raízes, seremos surpreendidos pela rara envergadura do Santo da Caridade e pela profundidade e novidade de suas intuições e realizações no campo da evangelização dos pobres.

A presença e compreensão da tríade: Cristo, Igreja, Pobre, é condição indispensável para abarcar e penetrar no âmago das suas muito e oportunas obras. É o que faremos ao considerar o tema em epígrafe.

Um privilegiado observador da Vida Consagrada

Pela natural maneira de ser, bem como por todo o seu itinerário sócio- religioso, S. Vicente era um homem profundamente aberto à sociedade, atento à marcha da Igreja, preocupado com a fidelidade ao Espírito. É este que, em cada momento da história, desperta formas de vida que atestam a presença de Deus e faz surgir homens privilegiados, capazes de interpretar e assumir a vontade divina, encarnando-a na realidade concreta e na marcha da salvação.

O carisma dos Fundadores revive a Instituição à qual deu início. Homem de amplo saber e largo círculo social, o nosso santo depressa se deu conta de que a instituição da Vida Consagrada, na sua maioria, vivia muito alheia ao momento presente, “monasticisada” em demasia.

Foi particularmente enriquecedor este contacto. Por dever de ofício e sobretudo como membro do Conselho de Consciência, contribuiu para a renovação de várias ordens. O elemento principal, constitutivo do estado religioso, era o compromisso de viver de acordo com os conselhos Evangélicos, assumidos mediante votos solenes. Esta solenidade canónica dos Votos reduzia a pluralidade das Instituições e dificultava a resposta adequada aos “sinais dos tempos”.

Abelly confirma a estima e apreço que o Senhor Vicente sentia pelo estado religioso.

A necessidade de algo diferente

Na Conferência de 07.11.1659, ao tratar dos votos, sublinha S. Vicente os valores constitutivos do tradicional estado religioso. Quase a meio da conferência, lança a pergunta: é esse o estado a que Deus nos chama? Não. Porque somos sacerdotes seculares que nos colocamos no estado que Nosso Senhor escolheu para si mesmo. Temos tudo o que têm os religiosos. Como bom canonista, adianta: - Os religiosos comprometem-se mediante votos solenes, enquanto os missionários não os emitem.

Quando, após aturadas diligências, consegue aprovação dos votos sem que a congregação seja considerada como “religiosa”, escreve: “A Divina Providência de Seus inspirou finalmente à companhia esta santa invenção de nos colocar no estado em que, tendo a felicidade do estado religioso, graças aos votos simples, continuamos no entanto entre o clero e em obediência aos Senhores Bispos, como os mais humildes sacerdotes de suas dioceses, em referência aos nossos trabalhos”. (III,224)

Noutra parte, pede se dê graças por nos encontrarmos na religião de S. Pedro, ou melhor de Jesus Cristo. “Salvador meu! Esperastes 1600 anos para suscitar uma companhia que fizesse profissão expressa de continuar a missão que o Pai vos confiou na terra”. (XI,639)

Na perspectiva da dimensão cristocêntrica, a dos compromissos, prorrompe em júbilo: “Não é para nós irmãos, uma felicidade imitar, de maneira tão simples, a vocação de Jesus Cristo? Quem continua, melhor que os missionários, a vida que Jesus Cristo levou na terra?”
Surge um instituto verdadeiramente original que dá pelo nome de Congregação da Missão. Afirma-se ainda maior ousadia na instituição das filhas da Caridade.

Enamorado de Cristo, discípulo da realidade, com profundo sentido eclesial e rara visão do pobre, também na sua fundação, entendemos as motivações e a finalidade a partir da tríade: Cristo, Igreja, Pobre. A estrutura religioso-jurídica é flexibilizada em proveito da finalidade apostólica. Mantém-se, no entanto, uma genuína espiritualidade, dado que a CM deve fazer suas as disposições de Cristo: amor e reverência ao Pai, caridade compassiva e eficaz com o pobre, docilidade à divina Providência.

Basta, para tanto, que se vivam as virtudes peculiares.

Muito antes de surgirem as Sociedades de Vida Apostólica, já Vicente de Paulo avançava – e de que maneira! – nesse caminho…
Aos Institutos de Vida Consagrada (no sentido jurídico) assemelham-se as Sociedades de Vida Apostólica cujos membros, sem votos religiosos, buscam o fim apostólico próprio da Sociedade e, levando vida fraterna em comum, segundo o modo próprio, aspiram à perfeição da caridade, pela observância das Constituições.

Entre estas, existem sociedades cujos membros abraçam os Conselhos Evangélicos mediante um vínculo determinado pelas Constituições. É fundamental, para S. Vicente, incidir no Cristocentrismo e no ter presente e no ter presente a finalidade apostólica, evangelizadora, devendo esta condição imprimir a tudo uma dinâmica de encarnação e de abertura.

Se não há atenção à finalidade, se a mesma não é actualizada constantemente, a Sociedade em questão perde a sua razão de ser. Daqui a quase obsessão do Santo em lembrar a identificação com Cristo, Enviado do Pai, Evangelizador e Servo dos pobres.

É, aliás, o próprio Direito Canónico a afirmar como primeiro elemento constitutivo de tais Sociedades a finalidade apostólica própria. “Nosso Senhor veio ao mundo, enviado pelo Pai a evangelizar os pobres – evangelizare pauperibus misit me -, como, pela graça de Deus, trata de fazer a pequena Companhia, pois esta é a nossa finalidade.” (IX,323)

A expressão “demo-nos a Deus”, tão utilizada pelo santo, exprime o insistente convite a uma consagração total à missão de Jesus Cristo que, para cumprir a vontade do Pai, levando a Boa nova aos pobres, foi até à Cruz.

Uma palavra-chave

“Estado de caridade” é uma expressão particularmente querida a S. Vicente de Paulo, e, com ela, pretende traduzir, de modo feliz, a novidade de suas grandes fundações. Diríamos que, ao modo de exercer a entrega a Deus para viver a caridade para com Deus e o pobre, à forma de tornar efectivo o Evangelho anunciado o Reino de Deus e prolongamento a missão de Cristo, chama o Santo “estado de caridade”.

Torna-se assim uma expressão identificadora, que aglutina o conteúdo da Caridade-Missão, tão marcante na caminhada do santo e manifestação completa do carisma que nos legou.

Os Padres da Missão e as Filhas da Caridade tornar-se-ão discípulos de Jesus Cristo e viverão a Castidade, Pobreza e Obediência, emprestando-lhes o estilo próprio do “Estado de Caridade” que é o seu e S. Vicente define sempre em perfeita fidelidade ao Evangelho.
“Dos religiosos, diz-se que estão num estado de perfeição. Nós não somos religiosos, mas podemos dizer que estamos num “estado de Caridade”, já que estamos continuamente ocupados na prática efectiva do amor ou em tensão para ele” (XI, 654)

Não há dúvida de que, tendo presente a prática do Fundador e o melhor do seu legado, Cristo encarnado para evangelizar e servir preferentemente os pobres, Missionário do Pai e Caridade Perfeita, é a fonte, o princípio dinamizador e o eixo unificador do modo de ser vicentino no mundo.

Não admira que assim seja, visto que, desde a sua ascensão na “conversão”, se deixou mobilizar, interpelar e conduzir pelo Cristo…

- Adorador do Pai,
- Servo do Seu desígnio de amor
- E portador da Boa Nova aos pobres.

Foi Cristo que levou este homem a fazer da sua vida uma história de doação em expansão. Foi o seu Espírito que o fez passar da defesa do religioso à paixão do Histórico, da nostalgia do passado à contemplação do futuro.

Nunca se cansou de proclamar o primado absoluto de Deus, vivido no serviço e na missão, cujas linhas de acção e estatuto jurídico definiu com tanta inspiração e êxito.

Nele a conformidade, tão perfeita quanto possível, com a vontade de Deus, exprime-se essencialmente por meio da caridade que vai ao encontro das necessidades dos homens e particularmente dos pobres na sua situação concreta.

Finalizando…

Vicente de Paulo avançou com projectos cuja ousadia e frescura ainda hoje nos encantam.
Teve uma imensa influência no evoluir da Via Consagrada; também nisso é um “santo moderno”.

À sua comunidade deixou o melhor de si: uma espiritualidade toda assumida em função da reprodução de Cristo evangelizador dos pobres, fonte e modelo de toda a Caridade.

Na referência a Cristo e aos pobres, num mundo a fermentar evangelicamente, temos a origem da espiritualidade vicentina.

É uma mina riquíssima a explorar com muito proveito.
Pe Jaime Cruz

Nota: Na elaboração deste trabalho consultei preferencialmente DICIONÁRIO DE ESPIRITUALIDAD VICENCIANA da editorial - CEME.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Jornadas Mundiais JMJ e EV no Panamá


Aproxima-se o grande momento do Encontro Internacional de Jovens Vicentinos e das Jornadas Mundiais da Juventude. A JMV de Portugal estará representada com 5 jovens, e pelo Assessor Regional da Zona Centro, o Diácono João Soares. Estes encontros são sempre um espaço para fazerem uma nova experiência de fé e vos animardes no serviço da Missão, a exemplo de Maria, que vai guiar toda esta caminhada.
Certamente que na bagagem estão muitas inquietações e esperanças. Mas acima de tudo uma vontade grande de estar com uma grande multidão de jovens, unidos pelo mesmo ideal, de mostrar o rosto jovem da Igreja nestes tempos de descrença.
Que Maria, s Serva do Senhor, vos acompanhe e que sejais nossos dignos representantes.
Boa peregrinação rumo ao Panamá! Rezarei por vós!

Pe Álvaro Cunha, CM