domingo, 21 de junho de 2015

BODAS DE DIAMANTE

75 anos da presença da Congregação da Missão em Moçambique


Encorajados pela “alegria do Evangelho” do papa Francisco, quero nesta minha apresentação “ olhar com gratidão o passado” para manter viva a identidade e fortalecer os laços de unidade entre os membros da mesma família vicentina que somos. A própria história é louvar a Deus e agradecer-lhe por todos os seus dons.

O lema da Congregação da Missão, fundada por S. Vicente, em 1617, é: “O Senhor enviou-me a evangelizar os pobres”. Os padres e irmãos põem em prática este lema.


Eis uma pequena síntese da sua presença e ação em Moçambique, desde a sua chegada até hoje.

Foi a 21 de junho de 1940 que desembarcaram em Maputo os 7 primeiros missionários vicentinos. Animava-os uma grande fé e confiança. Foram calorosamente recebidos na Missão de S. Jerónimo de Magude, que tinha sido dirigida pelos padres diocesanos das Missões de Cernache. Agora os padres Vicentinos iam dar continuidade a esta obra. Vinham para lançar as bases da implantação da Igreja Local. Magude foi o centro de irradiação dos missionários vicentinos nos primeiros 25 anos. Foi a Missão “Mãe”, da qual surgiram 9 sedes de missão, 14 paróquias e 3 seminários diocesanos.

Neste período, 51 padres e 11 irmãos trabalharam na formação do clero, na evangelização do mundo rural, na promoção social e no serviço aos pobres. O anúncio do evangelho e a celebração dos sacramentos eram feitos nas escolas. Estenderam a sua ação às populações de Limpopo, às de Naamacha, aos emigrantes de Johannesburg e às de Nicuadala. É destacada, a vitalidade e a entreajuda dos grupos da Família Vicentina presentes.

Os Missionários vicentinos em Moçambique passaram a constituir uma Vice-Província da CM em 1965, em vista a uma futura autonomia africano-vicentina. O P. António Joaquim da Silva, foi o 1º Vice-Provincial (1965-71). Nesse ano das Bodas de Prata, eram 46, todos portugueses. Chegaram a 53, em 1974. Mas sentiam urgência de candidatos moçambicanos, pois até então, tinham apenas, o atual bispo de Nacala, D. Germano Grachane, que tinha sido admitido em Portugal.


Em 1974 foi comprada a moradia destinada, desde então, a Casa Central ou Vice-provincial, no bairro de Malhangalene- Maputo. Esta evolução era em parte resposta aos interpelantes acontecimentos desses anos que pediam mudança profunda de mentalidade.

As medidas de nacionalização das Missões e dos Seminários após a Independência, provocaram um grande êxodo dos missionários. Com a guerra fratricida de 16 anos, surgiu um imenso sofrimento. Os missionários vicentinos tornaram-se promotores da “ Igreja Ministerial”, pela participação nas Assembleias Nacionais de Pastoral, através dos secretariados de Pastoral em que foram coordenadores diocesanos dos Seminários em que continuaram a ensinar.

Como consequência dos acontecimentos políticos, os campos de presença missionária eram os setores da educação, saúde e promoção. Os 13 missionários que aí restaram militavam vários na educação. Os que continuaram no país, fizeram a opção deliberada de permanecer no meio do povo mais desamparado e sofredor, como sinais ativos de amor e esperança. Entretanto receberam 4 reforços (3 de Portugal e 1 do Brasil) e em 1985 iniciaram a formação dos padres e irmãos vicentinos, no primeiro Seminário Lar, a atual casa do Teologado em Maputo.

Também mantiveram a responsabilidade da Paróquia-Missão de Santo António em Johannesburg, nascida e desenvolvida como complemento pastoral da atividade evangelizadora e formativa nas missões de Magude-Wanetze e do Limpopo.

Nos anos 90 era patente que “as gentes moçambicanas engrandecem e veneram S. Vicente de Paulo e a sua obra, pelos gestos que ficam dos seus filhos… a alegria é gémea da gratidão”.Com os acordos de paz de 1992 e o avanço da estabilidade no país, os membros da CM em Moçambique desenvolveram as condições indispensáveis para a formação de futuros sacerdotes e irmãos, com a construção do seminário do Lar da Matola e da residência missionária e Seminário Interno do Chirrundzo, pelas quais já passaram dezenas de candidatos.

No campo da evangelização, no Alto do Limpopo os missionários arriscaram tudo, bem apoiados pelo zelo apostólico dos leigos. Desde 1994, o cuidado da evangelização nessas terras foi confiado às equipas missionárias de leigas e sacerdotes que chegaram da Argentina e outros países.

Em 1995, após 31 anos de ação missionária e formativa na Namaacha, com o encargo da paróquia-Missão, do Seminário e do santuário mariano, a Vice- Província, entregou ao clero diocesano a responsabilidade pastoral. Também em 2006, as Paróquias-Missões de Chókwe e Chilembene e a Missão de Machel foram confiados aos Padres Salvatorianos.

Os filhos de S. Vicente de Paulo assumiram, entretanto, 3 novos campos missionários: Nacala, desde 1994; Chongoene, desde 1995 e Mavúdzi-Ponte, em Tete, desde 2010.



Na viragem do milénio, as dramáticas inundações dos vales de Limpopo e Incomati uniram os membros da Família Vicentina, contando com a solidariedade e ajuda humanitária. Atos de grande coragem e entrega aos doentes, velhinhos e mais abandonados se registaram por parte dos Missionários e Irmãs. Nas várias frentes de Missão, a prioridade continua a ser a formação dos responsáveis de zonas pastorais. Há também a preocupação de realizar projetos de desenvolvimento humano e comunitário auto-sustentado. Um instrumento posto em acção, e a valorizar, na atual etapa evangelizadora é o das Missões Populares Vicentinas.

O futuro da Congregação da Missão em Moçambique está no compromisso dos seus membros com Cristo Evangelizador dos pobres, no seguimento do Fundador “ os pobres são o meu peso e minha dor”. Espera-se desde já, dos vicentinos moçambicanos formados ou em formação uma influência crescente nas “ saídas para as periferias” à sua volta, reunindo forças com os missionários de outros países.

Termino com as palavras do P. Eli Chaves, após uma visita a Moçambique: “A Missão em Moçambique é cheia de desafios e dificuldades, mas com muita vitalidade missionária vicentina. Verdadeiramente, aqui a Congregação carateriza-se como uma Congregação da Missão, servidora, pobre e no meio dos pobres. Ela sente o apelo a fortalecer a solidariedade missionária efetiva e tem a oportunidade de experimentar vivamente a riqueza do seguimento de Cristo evangelizador dos pobres”.

 Resumo do artigo do Pe Luciano Ferreira, CM,

in Revista Além Mar, Junho de 2015

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