1. Na sua mensagem para o 86º Dia Missionário Mundial, a celebrar no próximo dia 21 de Outubro, o Papa Bento XVI recorda os 50 anos do início do Concílio Vaticano II (11 de Outubro de 1962), a abertura do Ano da Fé, que se estende de 11 de Outubro próximo a 24 de Novembro de 2013, o Sínodo sobre a Nova Evangelização para a transmissão da Fé Cristã, a decorrer em Roma de 7 a 28 de Outubro próximo, e desafia a Igreja a calcorrear as estradas do mundo com o mesmo ímpeto missionário das primeiras comunidades cristãs, lembrando-nos que «a pregação do Evangelho não é para a Igreja um contributo facultativo, mas um dever que lhe incumbe» (Evangelii Nuntiandi, n.º 5).
2. Neste sentido, o Papa Bento XVI exorta-nos a refazer as pegadas de São Paulo e o itinerário espiritual da mulher da Samaria (João 4) que, pedagogicamente conduzida por Jesus, abandona o cântaro antigo, que só servia para transportar água antiga, e corre à cidade, não para fazer afirmações paralisantes, mas para deixar no ar um convite e uma fina interrogação que põe a cidade a caminho de Jesus: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será ele o Cristo?» (João 4,29).
3. É ainda muito significativo que Bento XVI ponha diante de nós o ímpeto missionário das primeiras comunidades cristãs que, sendo embora pequenas e indefesas, souberam, pelo anúncio e pelo testemunho, difundir o Evangelho em todo o mundo conhecido de então.
Trata-se de uma visita guiada à primeira Catedral da Igreja nascente – mas com ramificações em todas as casas, em todos os corações –, bem assente em quatro colunas: o ensino dos Apóstolos (1), a comunhão fraterna (2), a fracção do pão (3) e a oração (4). Com a boca cheia de louvor, os olhos de graça, as mãos de paz e de pão, as entranhas de misericórdia, a comunidade bela crescia, crescia, crescia. Não admira. Era uma comunidade jovem, leve e bela, tão jovem, leve e bela, que as pessoas lutavam para entrar nela!
5. É uma comunidade bela, fecunda e feliz, que cuida de si, da sua imagem, mas que não está voltada sobre si, mas para fora, luz que alumia quer os que estão na casa (toîs en tê oikía) (Mt 5,15) quer os que entram na casa (hoi eisporeuómenoi) (Lc 8,16; 11,33), dando testemunho da sua bela identidade, sem peias nem vergonha, no meio de um mundo hostil e agressivo. Testemunho diz-se em alemão Zeugnis, e testemunhar diz-sezeugnen. Mas zeugnen significa também gerar, sendo mesmo o seu primeiro significado. Então, testemunhar é gerar novos filhos e filhas (Porta Fidei, n.º 7), fazer nascer com o nosso testemunho e a dádiva da nossa vida novas vidas cheias de Cristo, novas teias de esperança e de sentido.
6. O Papa faz-nos olhar depois para a Igreja missionariamente renovada do Concílio, para nela vermos um sinal luminoso de Cristo para todos os continentes. Mas apela logo à Igreja de hoje para que não esmoreça no seu dinamismo missionário, mas o renove, pois está a aumentar o número daqueles que não conhecem Cristo.
De facto, em 1965, o Concílio fala em 2.000.000.000 de não cristãos (Ad Gentes, n.º 10).
Vinte e cinco anos depois, em 1990, o Papa João Paulo II refere que esse número quase duplicou (Redemptoris Missio, n.º 3), número que a missiografia precisa em 3.449.084.000. Em 2000, esse número subia para 4.069.672.000. Em 2006, o número de não cristãos sobe para 4.373.076.000. Para 2025, prevê-se que esse número atinja os 5.220.896.000.
Decididamente, não podemos continuar a olhar para este mundo de braços cruzados. Temos de o amar e evangelizar. À maneira de Cristo.
+ António Couto
Presidente da Comissão da Missão e Nova Evangelização
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