Cada ano, o mês de Outubro oferece-nos um tempo especial para vivermos com entusiasmo a nossa fé e nos empenharmos com coragem e ardor na missão da Igreja. Este ano, temos razões acrescidas para vivermos este mês centrados na missão, estimulados por três eventos missionários: o Aniversário dos cinquenta anos do Concílio Vaticano II, o Sínodo sobre o tema da Nova Evangelização e a Abertura do Ano da Fé.
Tomando estes três eventos, proponho que este mês missionário seja vivido sob o tríplice olhar missionário:
Um olhar agradecido. Fazemos memória dos cinquenta anos do Concílio Vaticano II que nos deixou um legado inestimável e que continua hoje a ter o seu impacto na vida e missão da Igreja. Daquele sonho do papa João XXIII que esperava que o Concílio fosse “uma lufada de ar fresco” para a Igreja, permanece a visão de comunhão, de diálogo aberto e confiante com o mundo.
Na dimensão missionária recordamos a experiência enriquecedora da universalidade da Igreja manifestada pela presença multicolor de raças e culturas jamais vista no Vaticano. Foi esta presença nova e cheia de paixão pela difusão do Reino que fez entender à Igreja a sua natureza missionária. O Decreto Ad Gentes, torna-se, assim, o porta-voz desta sua consciência missionária (Ad Gentes, 2), que ao longo destas décadas foi desenvolvida por uma reflexão teológica fecunda, renovando sempre a validade da missão e o apelo ao compromisso de todos, como “um dever que incumbe a toda a igreja” e, não só…mas “também hoje a missão ad gentes deve ser o constante horizonte e o paradigma por excelência de toda a actividade eclesial”. Assim, a partir da sua consciência missionária, a Igreja sente-se sempre em estado de missão, “enviada por Cristo pelas estradas do mundo para proclamar o seu evangelho a todos os povos” (Porta Fidei 7).
Um olhar confiante no futuro. O próximo Sínodo – de 7-28 de Outubro –, sobre “a nova evangelização para a transmissão da fé cristã” põe-nos perante a urgência do anúncio de Jesus Cristo e do Seu Reino no presente contexto – em acelerada transformação – em que vivemos hoje a nossa fé. Nestes últimos anos, o nosso contexto sócio-cultural tem sido submetido a mudanças significativas e imprevistas cujos efeitos – veja-se a crise económico-financeira – são bem visíveis e activos nas nossas respectivas realidades locais. E a Igreja tem sido directamente afectada por essas mudanças.
Assim, se, por um lado, evangelizar faz parte da razão de ser da Igreja, e a Igreja jamais interrompeu o caminho da evangelização porque vive sempre em estado de missão, também é verdade, por outro, que ela deve responder com criatividade positiva a este novo contexto sócio-cultural que, neste nosso mundo ocidental, manifesta um processo progressivo e preocupante de descristianização e de perda de valores humanos essenciais.
Confiantes no protagonista da missão, o Espírito Santo, querem assumir uma atitude de discernimento para transformar os mais variados contextos de evangelização (secularização, fenómeno migratório, mistura de culturas, dimensão política e económica, investigação científica …) em lugares de testemunho e de anúncio do Evangelho. Onde estiver um cristão, aí está um evangelizador!
Um olhar amoroso. A abertura do Ano da Fé, neste mesmo mês missionário, oferece-nos a referência fundamental para viver o mês (e o ano) em chave missionária. Efectivamente, neste ano da fé, vamos ser lembrados de que a missão é uma questão de fé, de confiança, “no mistério de Deus, que se revelou em Cristo para nos trazer a salvação”; é também uma questão de anúncio e testemunho do seu amor ao mundo e pelo mundo. Bento XVI exprime-o bem com estas palavras da sua mensagem: “A fé em Deus, neste desígnio de amor realizado em Cristo, é antes de tudo um dom e um mistério a receber no coração e na vida e pelo qual agradecer sempre ao Senhor. Mas a fé é um dom que nos é dado para ser compartilhado; é um talento recebido para que produza frutos; é uma luz que não deve ficar escondida, mas iluminar toda a casa. É o dom maisimportante que nos foi feito em nossa existência e que não podemos guardar para nós mesmo”. Efectivamente, Fé e Missão constituem a identidade da Igreja.
Neste ano, e particularmente neste mês missionário, somos convidados a “renovar o entusiasmo de comunicar a fé para promover uma nova evangelização das comunidades e dos países de antiga tradição cristã que estão a perder Deus como referência, a fim de redescobrir a alegria de crer”.
Com um coração centrado na missão. Neste contexto histórico em que vivemos não podemos desperdiçar energias. Enraizados na fé, ousamos sair de nós mesmos, da nossa zona de conforto, queremos atravessar o outro lado da rua ou partir para terras distantes, para ir ao encontro do “outro” com a paixão da missão no coração.
Se o nosso coração estiver centrado na missão, não nos faltarão, certamente, oportunidades de evangelização e de anúncio através de uma “caridade operativa” feita de gestos credíveis de proximidade e solidariedade. «Não devemos ter medo de sujar as mãos, ajudando os miseráveis da terra: para que servirá ter as mãos limpas, se as temos no bolso?» (Cardeal Ravazi, Maio, Fátima)
Que Nossa Senhora, estrela da missão, nos ajude a abrir o nosso coração às riquezas insondáveis da nossa fé, percorra connosco as estradas da missão e torne a Igreja toda missionária. A todos, um mês missionário fecundo.
P. Alberto Silva, MCCJ
Presidente dos Institutos Missionários Ad gentes (IMAG)
in Outubro Missionário 2012
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