domingo, 27 de abril de 2014

João XXIII e João Paulo II – dois Santos para a humanidade



Roma está em festa ao celebrar as canonizações de dois Papas que estiveram na Cadeira de Pedro na segunda metade do século XX e que, com os seus testemunhos de fé inspiraram milhões de pessoas em todo o mundo: João XXIII, o impulsionador do Concílio Vaticano II e João Paulo II o Papa peregrino.


Os beatos João XXIII e João Paulo II serão, a partir deste domingo, 27 de Abril, Domingo da Divina Misericórdia, santos da Igreja Católica, elevados assim à veneração dos fiéis. É um momento muito importante para a Igreja e para o mundo como declarou o Cardeal Agostino Vallini na conferência de imprensa de apresentação desta celebração:

"É essencialmente uma mensagem espiritual, porque é a festa da santidade. A relação que João XXIII e João Paulo II tiveram com a Igreja de Roma, da qual eram bispos, e com a Igreja universal e o mundo, é uma relação muito profunda, começando pelo estilo com o qual eles exerceram o seu ministério, um estilo de proximidade, acolhimento e atenção para com as pessoas, para com os homens enquanto tal. A canonização é uma graça de Deus, que o Senhor nos faz mostrando-nos como modelos de vida cristã dois homens de fé”.

João XXIII e João Paulo II, dois santos do nosso tempo que comungaram e partilharam a vida de muitos de nós e de alguns presencialmente na proximidade. Para um conhecimento mais profundo de cada um deles, propomos dois testemunhos vivos e de pessoas que privaram com Angelo Roncalli e Karol Wojtyla, dois santos para a humanidade.

João XXIII – O Santo da bondade

Angelo Roncalli - Imagem da bondade e de humildade - O Cardeal Loris Capovilla, secretário particular do Papa João XXIII afirmou à Rádio Vaticano que o Papa Roncalli deu-lhe sempre uma grande lição de humildade e era a imagem da bondade:


“A minha impressão é esta: vi a imagem da bondade. Tive esta convicção quando o vi pela primeira vez, quando o vi em fotografia. Quando o vi pessoalmente em 1950 na minha Veneza, quando fui a Paris – a 2 de Fevereiro de 1953 – quando me convidou para ser seu “companheiro de armas”. Eu nunca me chamei secretário do Papa João, porque o secretário do Papa é o secretário de Estado. Eu fui um pequeno servidor”.
“Com o Papa João eu rezei, sofri, mesmo depois da sua morte sofri muito. Depois o Senhor dispôs através dos seus servos, que esta figura voltasse a aparecer no horizonte. Hoje quem o chama “ao vivo” é o Papa Francisco. Uma das primeiras coisas que me disse foi: ‘Loris, recorda-te, se não metes o teu “eu” debaixo dos teus pés, nunca serás livre e não entrarás no território da paz’. E as mesmas palavras que disse depois no dia mais solene da sua vida, com o mundo inteiro perante si, disse aquelas palavras sublimes: ‘A minha pessoa não conta nada!’.

“Foi uma grande lição de humildade, de doçura, de amor e de esperança. O Papa João ensinou-nos e agora repete-o em quase todos os encontros o Papa Francisco: ‘Cada um de nós rectos ou não rectos, crentes ou não crentes, cada criatura humana traz consigo o selo de Deus’.
“Esta é a primeira lição que eu recebi e na qual fico. Professo desde este momento a minha veneração a S. João XXIII e a S. João Paulo II e agradeço ao Papa Francisco.”

João Paulo II - O Santo da proximidade

Karol Wojtyla - Proximidade com o povo eencontro com Deus - Entre as muitas testemunhas da vida e da fé do Papa João Paulo II esteve sempre muito próximo do Papa Wojtyla o arcebispo Piero Marini que foi mestre das celebrações litúrgicas durante o pontificado do Papa polaco. A Rádio Vaticano ouviu o seu depoimento:


“O primeiro encontro que eu tive com Karol Wojtyla foi em Cracóvia em 1973 durante uma viagem do cardeal prefeito da Congregação para o Culto Divino, que eu acompanhava, em quase todas as dioceses da Polónia. Ali, pela primeira vez, vi este arcebispo de Cracóvia, muito gentil... Recordo sobretudo a sua proximidade com o povo”.

“Na celebração das duas missas que tivemos com ele – primeiro a Missa em público de Santo Estanislau com uma grande procissão, interminável; e a Missa depois numa paróquia em Nowa Huta, que ele próprio tinha mandado construir – recordo esta proximidade com a gente e sobretudo via nele o pastor como tinha sido delineado pelo Concílio Vaticano II”.

“Recordo que depois destes momentos, havia sempre um encontro com a assembleia, com a gente que parava para estar com ele. Recordo estes camponeses que vinham provavelmente de Zakopane, com os seus trajes... Deu-me esta bela impressão de um pastor próximo, como diz o Papa Francisco: um pastor que tinha o odor das ovelhas.”
“Acreditava naquilo que fazia! Quando rezava, rezava porque acreditava na sua oração. Não tinha temor de rezar em público, de fazer gestos que, talvez, outros teriam um pouco de dificuldade. Era um homem autêntico, que tinha os seus momentos de intimidade, de encontro com Deus”.

“Esta era a sensação que me dava que ainda hoje me edifica pensando nestes momentos de oração que começavam já na sacristia. Uma oração que era pessoal, mas também simples e próxima de cada um de nós, como por vezes a oração do terço, ou durante uma viagem mandava parar o automóvel para celebrar a liturgia das horas... Era um homem que verdadeiramente dava à oração o primeiro lugar!”

Dia 27 de Abril, II Domingo de Páscoa, Domingo da Divina Misericórdia, o Papa Francisco, em nome da Igreja dará dois santos para a humanidade.
Dois Papas que na sua vida e nas suas obras testemunharam o amor de Deus e a presença viva de Jesus no meio de nós...

Rádio Vaticana,
24 de Abril de 2014

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Missão Popular e os seus desafios



Perspectiva de um seminarista do Seminário Interno

Local e circunstâncias
Decorreu em Piacenza-Itália, na paróquia de São José Operário, a minha primeira Missão Popular como missionário vicentino. Decorreu entre os dias 22 de Março a 6 de Abril. Foi uma surpresa para mim! A Missão Popular que fizemos possui um esquema um pouco diferente daquele a que nós, Província Portuguesa da Congregação da Missão (PPCM), estamos habituados.
A paróquia de Piacenza tem várias comunidades neo-catecumenais e uma forte presença infanto-juvenil. Há uma boa assiduidade às eucaristias dominicais. É uma paróquia bem organizada e estruturada, com funcionários administrativos que trabalham a tempo inteiro. Durante estes dias foram essenciais para o desenvolvimento da missão, uma vez que conheciam muito bem o terreno.
A escolha da paróquia de Piacenza para a realização desta Missão Popular deve-se ao protocolo existente desde o tempo do Cardeal Alberoni, onde está consagrado que os Padres da Missão deveriam missionar a diocese de Piacenza, de 5 em 5 anos.

Objectivos e métodos
Um dos principais objectivos desta missão foi a inserção dos seminaristas do Seminário Interno na pastoral da missão. Pretendeu-se, ainda, dar uma lufada de ar fresco a esta paróquia que apenas tem 40 anos de existência e onde o pároco se mantém desde a sua fundação.
Esta Missão Popular começou com a celebração de envio presidida pelo bispo Giany, onde foram feitas a imposição da Cruz Missionária e a entrega do Evangelho. Seguimos, posteriormente, para a visita às famílias, onde era feita a bênção das casas. Em paralelo, realizaram-se as pregações nas Eucaristias feriais e as visitas aos doentes, com confissão e a distribuição da comunhão.

Encontros e realidades
Aproveitamos também o horário da catequese para estar com as crianças e adolescentes da paróquia. Com eles, criei laços de amizade, dancei e falei-lhes um pouco da nossa espiritualidade vicentina.
Nesta Missão os jovens não foram esquecidos e, por isso, foram realizados dois encontros onde se desenvolveram três temas fundamentais: a fé, Jesus Cristo e a Igreja.
Durante a Missão Popular também foi possível visitar alguns lugares magníficos, como por exemplo, uma vila medieval.
Pudemos confraternizar com as famílias e com os párocos, quer nos centros de escuta do evangelho, quer nas várias refeições que fizemos juntos. Nas visitas que fizemos às famílias deparamo-nos com várias situações de pobreza, de afastamento/aproximação de Deus e com pessoas doentes, com diversos problemas económico-sociais.
A equipa de missionários era constituída pelo director da Missão, padre Cláudio (província de Roma), missionários assistentes, padre director do seminário Roberto d´Amico, padre Lorenzo Manca e nós seminaristas (*).
De realçar também a recepção calorosa por parte do colégio Alberoni que nos acolheu durante a Missão Popular.

Vivência e avaliação
Inicialmente não foi fácil, uma vez que partimos com ideias já estabelecidas daquilo que tão bem fazemos, que são as Missões Populares.
O que posso dizer é que foi uma experiência enriquecedora e diferente, em que tivemos oportunidade de conhecer outros meios, outros confrades, mas sobretudo, de nos conhecermos melhor uns aos outros como seminaristas. Foi um tempo forte que permitiu, sobretudo, perceber que nós, missionários, temos de ser capazes de adquirir uma grande capacidade de adaptação e improvisação das realidades que nos circundam.
Sob a direcção do padre Cláudio, C.M (província de Roma) tivemos a oportunidade de viver e fazer experiência da nossa Missão Popular. Cada um de nós, principalmente de quem já fez a sua 1ª Missão há muito tempo, recordará e levará estas experiências no seu coração, pois é a partir delas que percebemos o lema da nossa Congregação: “Evangelizare pauperibus misit me”.
João Soares, CM

Seminarista vicentino

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Comunidade Cristã de Comunidades





A paróquia de Arões viveu um tempo forte de Missão em Outubro último. A partir dessa experiência, as vivências, dinâmicas e planos da vida paroquial, obedeceram ao lema “Comunidade Cristã de Comunidades”. A caminhada quaresmal assumiu um forte desafio: “Atreve-te!”, “Faz isto e viverás!”


Retiro quaresmal
Cada Quaresma que vivemos é mais um atalho a percorrer para encontrarmos o verdadeiro Caminho, Jesus Cristo, que nos convida à escuta da Sua Palavra, à alegria do Seu perdão, à entrega e serviço com gestos de caridade, de paz e amor.
Quaresma, tempo favorável de conversão! Tempo de Esperança! Anúncio de Vida Nova! Aurora da Ressurreição!
Foi neste espírito que a comunidade de S. Simão de Arões viveu o seu retiro quaresmal, de 31 de Março a 6 de Abril. Durante uma semana tivemos a felicidade de acolher a Palavra de Deus de forma tão simples, tão serena e esclarecedora, transmitida pelo Padre Álvaro, missionário vicentino, que nos fez sentir mais responsáveis da nossa missão de cristãos, seguidores de Cristo, que entregou, livre, voluntária e totalmente a Sua vida por nós, até à morte na cruz! Tudo por Amor e Obediência ao Pai! Assim espera de nós baptizados, profetas de um mundo novo, onde o Amor do Pai deve ser a prova de que anunciamos Cristo ressuscitado! O retiro quaresmal foi uma dádiva de Deus para a comunidade de Arões.


Todos, tudo e sempre em Missão
Durante a semana por causa do frio e da distância, (somos uma paróquia muito dispersa!), havia muitos lugares vagos na igreja. No dia das confissões e no encerramento a igreja foi pequena para tanta gente.
Além das pregações na igreja o Padre Álvaro percorreu os caminhos de Arões tal como Jesus percorreu os caminhos da Palestina, acolhendo, curando e ensinando. Visitou mais de 100 doentes e idosos, levando o conforto do Senhor àqueles que carregam o peso da cruz na doença, no cansaço, e na solidão. Deste modo, puseram-se em prática as palavras do Mestre: “ Vinde a Mim vós os que andais cansados e oprimidos e EU vos aliviarei”!
Falou aos jovens e às crianças da catequese ajudando-os a criar espaço para Deus através da tecnologia que cada um possui.
Esteve com os Animadores das assembleiasformadas na Santa Missão, fervorosamente vivida em Outubro de 2013, a partir da qual se gerou uma amizade tão profunda que nos faz sentir que o Padre Álvaro faz parte da nossa comunidade. Agradecemos ao Senhor tão grande dádiva!

Teresa Matos

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Fica, Senhor (Lc 24, 13-35)


Fica, Senhor:
Vem caindo a noite;
longo é o caminho e grande é o cansaço…

Fica, Senhor:
Diz-nos palavras de Vida
que aquecem a mente e incendeiam a alma.

Olha-nos, Senhor,
com esses teus olhos
de Luz e de Vida e devolve-nos a alegria esquecida.

Lava, Senhor,
as feridas de nossos pés cansados
desperta-nos para viver de gestos renovados.

Fica, Senhor:
Alinda-nos o rosto e o coração;
queima em nós toda a tristeza e faz brotar a esperança.

Fica, Senhor:
Aceita sentar-te à nossa mesa
e, paciente, diz-nos palavras quentes.

Parte para nós o Pão,
e abre-nos os olhos
duma fé adormecida!

Fica, Senhor:
Renova alegria e sonhos
e dá-nos essa Alegria e Paz de ressuscitados.

Leva-nos sempre, Senhor,
até ao mundo e à vida
para vermos o Teu rosto nos rostos do dia a dia.

Fica, Senhor:
Vem caindo a noite;
 longo é o caminho e grande é o cansaço…

Ulibarri
(traduzido e adaptado
por P. M. Nóbrega, CM)


sábado, 19 de abril de 2014

Santa e Feliz Páscoa!


A EXPERIÊNCIA DO REENCONTRO…





A Páscoa festeja-se como uma nova Primavera que apaga o difícil Inverno.
É belo e bom.


A quando dos acontecimentos da morte de Jesus, o cepticismo é geral.
Tudo o que se passa entre o túmulo e o cenáculo parece-se com uma crónica da dúvida.

Somente o reencontro com Jesus que se faz ver apagará essa incredulidade.
Maria Madalena ouve chamar o seu nome e a sua vida transforma-se. Os caminhantes cabisbaixos e derrotados reconhecem Jesus em Emaús na fracção do pão e correm cheios de entusiasmo levar a notícia aos outros. Outros, à beira do lago, começam a acreditar na ressurreição e sentem-se animados a levar a notícia a toda a gente.

A experiência da ressurreição dá-se no final de uma procura e no começo de uma missão.

Mais importante do que o túmulo vazio é a experiência do encontro com Jesus. Esta é que é decisiva. Estou eu disposto a deixar-me encontrar com e por Jesus?

Santa e Feliz Páscoa!
P. António Lopes,
(Director nacional
das Obras Missionárias Pontifícias)




quinta-feira, 17 de abril de 2014

RELÍQUIAS E COLOS – ECOS DE UMA MISSÃO


Testemunho 2

“Anunciar o Evangelho não é título de glória para mim; pelo contrário, é uma necessidade que me foi imposta. Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho! (I Cor 9,16).


Eu sou Fr. Adenilson Pimentel Gomes, MC de Manhuaçu, Minas Gerais-Brasil. Pertenço ao Instituto Milícia de Cristo. Fui transferido para Portugal, há vinte dias, nestas terras gélidas (em comparação com a minha terra!), mas de um calor humano e fraterno que logo me senti em casa e acolhido.
Estamos em missão nas paróquias Milicianas, na diocese de Beja, mais concretamente, em Colos e Relíquias. Esta missão tem como coordenador o Pe. Agostinho, vicentino e director da Animação Missionária na Diocese. A equipa missionária em acção era formada pelas Irmãs do Bom Pastor, Ir. Celina e Ir. Conceição, pelo Pe. Agostinho, pelo Godfrey (para nós, Godofredo!) – da Nigéria e a estagiar na Paróquia de Vila Nova de Milfontes (Diocese de Beja), e pelos Milicianos de Cristo, Pe. Reuber, Diác. João, Fr. Diogo, Fr. Cristyan, Fr. Adriano e por mim, Fr. Adenilson.


Missão aquém fronteiras
A minha experiência missionária aqui em Portugal é nova em muitos aspectos: a cultura e a linguagem são diferentes, os costumes, a culinária, a oração, o clima, tudo é muito diferente do Brasil. No entanto, essa diversidade tem-me enriquecido muito a cada dia que passa. Já aprendi muita coisa e quando não entendia, logo perguntava como é. Por isso, de vez em quando, esta situação ocasionava momentos de alegria, pois todos nos ríamos das coisas ou expressões que tinham graça.
Todos os dias, os Missionários das 2 equipas (Relíquias e Colos) rezavam juntos a oração de Laudes, ora integrada na Eucaristia ora na Adoração ao Santíssimo. Logo após este tempo de louvor e de agradecimento, vinha o campo de Missão. Visitamos Lares de Idosos, Centros de Dia, Escolas, a comunidade Tamera, Montes, Aldeias... Fizemos a visita a cada Família, indo de casa em casa. A oração e a bênção chegaram a todas as casas e pessoas, bem como aos estabelecimentos comerciais ou lugares de trabalho (cafés, restaurantes, oficinas, carpintarias, fábricas).
O acolhimento foi muito bom, com excepção de um ou outro caso. Nas muitas Missões que participei no Brasil além das boas palavras que escutava, as pessoas ofereciam aos Missionários um cafezinho. Aqui, foi um pouco diferente! Também recebemos muitos gestos e sinais de carinho e para significar a alegria da visita, muitas pessoas ofereciam vinho do Porto ou outro vinho ou ainda um licor.

“Fui evangelizar e saí evangelizado!”

A Missão é a acção evangelizadora da Igreja, pois o Concílio Vaticano II no Decreto Ad Gentes sobre a Actividade Missionária da Igreja, no seu número 1, diz:“A Igreja, enviada por Deus a todas as gentes para ser “sacramento universal de salvação, por íntima exigência da própria catolicidade, obedecendo a um mandato do seu fundador, procura incansavelmente anunciar o Evangelho a todos os homens. Já os próprios Apóstolos em que a Igreja se alicerça, seguindo o exemplo de Cristo, pregaram a palavra da verdade e geraram as igrejas”.
Outrora, alguém disse: “Fui evangelizar e saí evangelizado!”. Hoje, também eu afirmo: Aprendi muito nesta Missão Popular, nestas terras do bacalhau, do vinho, do porco preto, do Povo alentejano, do Povo acolhedor. Agradeço a Deus esta oportunidade de partilharmos uns para com os outros o que temos e somos, os nossos talentos e os dons e a nossa Missão.

Fr. Adenilson, Brasil

Miliciano de Cristo

terça-feira, 15 de abril de 2014

Missão à escala internacional



Talvez o título seja demasiado ambicioso e muito abrangente. Mesmo correndo o risco de parecer muito expressivo e forte, até aos dias de hoje, não houve na diocese, nestes últimos tempos uma Missão tão internacional, mesmo sendo vivida em duas pequenas paróquias do concelho de Odemira: Colos e Relíquias.
A equipa missionária era composta por portugueses (três), brasileiros (seis) e um nigeriano. A maior parte dos membros da equipa participou, pela primeira vez, numa Missão Popular. Além destes pormenores, ricos e significativos, a Missão dirigiu-se aos habitantes de Relíquias e de Colos, mas também a um grupo de gente ‘estrangeira’, não apenas de nacionalidade ou língua, mas diferente no modo de viver e de encarar a sociedade. Falamos da Comunidade Tamera. Gente nova e de várias idades, abriu-se à Missão, acolheu a Senhora da Visitação e a equipa missionária. Partilhou o seu estilo de viver e a sua refeição. Não faltou o tempo de oração. Rezou-se, em português e em inglês, conforme a língua mãe de cada um ou aquela que melhor ajudou a criar comunhão e laços de amizade. Foi bonito.
Afinal, o título não está tão desajustado ao que se experimento e viveu em Colos e em Relíquias, nas primeiras semanas de Abril. Dois dos missionários, oriundos de continentes diferentes, narram as suas vivências e transmitem os seus testemunhos de vida.

Testemunho 1

- Sair em Missão -

Com muita alegria começamos e vivemos duas semanas de Missão Popular nas Paróquias de Colos, Relíquias e suas comunidades (montes dos arredores). Fiz equipa com os padres Agostinho e Reuber, pároco. As Irmãs do Bom Pastor, Diác. João, e Frei Adenilson, também fizeram parte desta equipa de evangelização.
Houve encontros de comunidades familiares. Algumas pessoas vizinhas juntaram-se para partilhar a fé e a experiência cristã. Trataram vários temas especializados. Visitamos e participamos nestas comunidades e encontros. É muito bom e interessante ver as pessoas a terem tempo para Deus, para lerem a Bíblia juntos. É importante também ver os cristãos a terem interesse em conhecer Deus e os mistérios da nossa salvação.

Ao longo da Missão tivemos várias procissões com Imagem Peregrina da Nossa Senhora das Missões. Em todo o lado, houve boa participação por parte do povo.

Visita e encontro com as famílias
Na Missão houve uma acção muito forte: Tivemos a visita e a bênção às famílias. Foi um momento que gostei imenso de fazer, isto é, de ir ter com as pessoas em suas casas. Foi uma experiência e uma realidade muito interessante, mas muito diferente do que já fiz no norte (compasso ou visita pascal). Alguns aceitam e acolhem-nos com entusiasmo; outros, com receio, e outros, ainda, com uma indiferença enorme.
Aqueles que têm receio em nos acolher, sobretudo nos montes e lugares distantes, tinham um motivo: a polícia, por razões de segurança, tinha-os avisado para não abrirem a porta a estranhos e a pessoas não conhecidas. Aceitamos e compreendemos perfeitamente a situação, pois já houve pessoas que, num passado recente, se disfarçam de equipa médica, de funcionários de Banco, de polícia, de religiosos e de funcionários da segurança social. Com este disfarce o motivo, enganaram e roubaram os idosos da aldeia ou os mais isolados. Os outros, que acolhiam com indiferença, notava-se uma enorme falta da fé, e outros ainda, diziam que não ligavam nada a Deus nem à religião! É muito interessante saber ou reconhecer que cada sítio ou local tem a sua realidade própria no que toca a assuntos religiosos. Deste modo, aparecem os aspectos positivos e os negativos.
Como equipa missionária, tivemos uma oportunidade única de visitar a Tamera. É uma comunidade universal, com cerca de 200 pessoas, no mais interior do Colos e de Relíquias. Esta comunidade é oriunda da Alemanha, tem cerca de 20 anos e os seus membros são de várias procedências: Inglaterra, América, Holanda, Itália, Espanha, Portugal, Palestina, etc. Pode-se dizer que é uma comunidade isolada da realidade urbana. Os que a procuram, depois de fazerem um tempo de adaptação, querem viver perto da natureza. É interessante ver que, neste tempo em vivemos, há pessoas que querem um estilo de vida diferente, afastado do mundo da tecnologia e das novidades do nosso tempo.

Re-envangelização do povo
Nas nossas visitas familiares que foram feitas nesta missão popular pude observar que há muito a fazer na área da missão e da re-evangelização do povo. Encontramos muitas pessoas que estão totalmente na ignorância no que diz respeito à religião. Algumas delas, a causa é a influência da ciência e do modernismo (mais novos e com alguns estudos) e outras, por causa do anti-clericalismo (mais velhos). Por motivos diferentes, uns e outros, não querem saber nada de Deus nem da Igreja.
Nesta base de constatação, julgo ser necessário, nestas e noutras aldeias, uma catequese forte, duradoira e contínua para que mais alguns possam abraçar a fé. É muito triste, ir para uma terra, e ver que os nossos jovens, o futuro do mundo e da Igreja, morrem na ignorância e indiferença no que diz respeito a Deus e à Igreja. Por isso, como sugestão, proponho que haja missão contínua e intensa nos locais mais interiores da nossa diocese, nunca esquecendo as famílias. As nossas famílias, modernas ou não, necessitam de uma catequese forte, para uma renovação dos valores e para uma re-evangelização, para ser de facto, a Igreja domestica.
Agradeço imenso ao pároco, Pe. Reuber, e ao Pe. Agostinho, pela oportunidade que me deram para participar nesta Missão Popular. Que Deus seja a nossa recompensa! Que, por intermédio dos missionários, Nossa Senhora das Missões continue a chamar mais homens e mulheres para ‘fazer tudo o que Jesus disser’ e estarem atentos ao que Deus quer!

Ikechukwu Mary Godfrey A. Okeke – Nigeriano
(Seminarista da diocese de Beja,

a fazer estágio na paróquia de V. N. Milfontes)

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Por Montes e Vales



As paróquias de Colos e Relíquias estão em Missão. Após a recepção da Imagem da Senhora das Missões, da Eucaristia de Envio e da presença do Pastor diocesano, mesmo ao ritmo e intensidade da chuva, os missionários foram aos Montes (do Pereiro Grande e da Estrada) e Vales (do Ferro e outros) levar a notícia deste tempo forte de Missão. Além do primeiro encontro e da proposta da mensagem de Jesus, aconteceu em todos eles, em noites diferentes, a visita da Virgem peregrina. Nem as distâncias, nem o tempo invernoso impediram que se congregasse um significativo grupo de pessoas. Nas escolas ou em espaços abertos fez-se uma celebração da Palavra. Com cânticos e a oração do terço, percorreram-se os caminhos de cada povo. Em alguns momentos, para além das vozes que entoavam os hinos e balbuciavam as suas preces, ouvia-se o canto da natureza que se associava ao louvor dos homens.
As pessoas de Relíquias, que vivem no centro da aldeia, sentiram-se motivadas e mostraram a sua disponibilidade para acompanhar a visita da Imagem da Senhora aos lugares mais dispersos e perdidos da freguesia. Foi grande a alegria vivida e transmitida nestes momentos.

A alegria era visível no olhar de todos e estava estampada no rosto de cada um, mesmo daqueles que pouco ou nada sabem rezar. Estes, não se fizeram rogados e, quando convidados a repetir as orações e invocações, não só mexiam os lábios, mas a sua voz era bem perceptível e fazia coro com todos os outros.
O tempo foi melhorando. A Imagem da Virgem continuará o seu percurso. Daqui a dias, será entregue à comunidade-irmã de Colos, passando por Campo Redondo e Monte da Ribeira da Seissa (Grande e Pequena). Mais uma vez, o povo se prepara para entoar louvores à Mãe de Deus e à mãe da Igreja.

Nas casas, uma oração e a bênção
Se as noites foram ocupadas com a visita da Senhora, as manhãs foram dedicadas á oração e ao encontro. Na Igreja de Santa Isabel, em Colos, a equipa missionária, reunia-se para os louvores da manhã (Oração de Laudes e Adoração do Santíssimo Sacramento). Um grupo de senhoras juntava-se à equipa e rezava pela Missão.


O encontro nas ruas e nas casas ia acontecendo. Durante o dia, alguns dos missionários começaram a visitar todas as casas. Primeiro, foram visitar as que ficam mais distantes; depois, dedicaram o tempo, às casas que compõem o aglomerado habitacional das aldeias. A uns e a outros, levam a palavra amiga, a alegria do encontro e, entrando nas suas casas, convidam à oração e pedem a bênção de Deus para as pessoas que aí residem. Em todas as casas foi deixada a oração que fora feita no encontro com a família.
Esta acção da Missão tem sido muito importante. Os testemunhos vividos e narrados são muito expressivos e ajudam a criar espírito de família e de comunidade. Estes contactos acontecerão, em Colos, durante a segunda semana da Missão.

As pequenas comunidades
As duas paróquias procuraram responder ao apelo feito para que, a nível de vizinhança, fossem constituídas pequenas comunidades. Para criar o espírito de abertura e de comunhão aos outros, numa e noutra comunidade, foi usado um método muito interessante. Além da disponibilidade manifestada por algumas pessoas, no tempo de preparação, nas casas onde iria reunir a comunidade, o pároco, P. Reuber, celebrou a Eucaristia e deixou a imagem de um santo protector, escolhido pelo grupo de vizinhos ou familiares.
A estratégia funcionou. Em Colos, funcionaram 5 comunidades e, em Relíquias, quatro. Todos os dias, com mais ou menos gente, todas reflectiram os temas propostos e manifestaram o seu propósito de continuar a aprofundar a fé e a criar laços de partilha e de amizade, a partir do encontro com a Palavra de Deus.
Momento alto, foi a celebração da comunidade das comunidades. Numa e noutra paróquia todas as comunidades deram o seu testemunho, expresso nos cartazes e nas palavras de cada animador. Em Colos, toda a partilha feita pelas 5 assembleias pode ser sintetizada, numa simples frase: “A Missão ajudou-nos a fazer o caminho de Nazaré (‘hoje cumpriu-se o que acabais de escutar’) aEmaús (‘contaram tudo o que lhes tinha acontecido pelo caminho’): tornando-nos Mensageiros de Jesus, queremos fazer da nossa terra uma comunidade de Consolação e de Alegria”.Em Relíquias, com a Missão, como nas primeiras comunidades de Jerusalém, aprendemos a ser Amigos de Jesus, o nossoRedentor, e a construir uma comunidade de Mãos Abertas”, foi o resumo feito a partir dos nomes das 4 assembleias familiares.
O encontro com os idosos e doentes também foi um ponto alto da Missão e aconteceu no Centro de Dia da Casa do Povo de Relíquias. Também aqui, as gentes mais novas (jardim infantil e ciclo básico) tiveram um momento de animação. As duas gerações, com os respectivos animadores, aproveitando a quadra da Páscoa, proporcionaram um ambiente de alegria e de festa. Também, por aqui, passou a Missão!


P. Agostinho Sousa, CDM/Beja