sexta-feira, 31 de maio de 2019

Dia das Comunicações Sociais


Esta é a rede que queremos!

“Como cristãos, todos nos reconhecemos como membros do único corpo cuja cabeça é Cristo. O panorama atual convida-nos, a todos nós, a investir nas relações, a afirmar – também na rede e através da rede – o caráter interpessoal da nossa humanidade. Por maior força de razão nós, cristãos, somos chamados a manifestar aquela comunhão que marca a nossa identidade de crentes. De facto, a própria fé é uma relação, um encontro; e nós, sob o impulso do amor de Deus, podemos comunicar, acolher e compreender o dom do outro e corresponder-lhe. A imagem do corpo e dos membros recorda-nos que o uso das redes sociais é complementar do encontro em carne e osso, vivido através do corpo, do coração, dos olhos, da contemplação, da respiração do outro. Se a rede for usada como prolongamento ou expectação de tal encontro, então não se atraiçoa a si mesma e permanece um recurso para a comunhão. Se uma família utiliza a rede para estar mais conectada, para depois se encontrar à mesa e olhar-se olhos nos olhos, então é um recurso. Se uma comunidade eclesial coordena a sua atividade através da rede, para depois celebrar junta a Eucaristia, então é um recurso. Se a rede é uma oportunidade para me aproximar de casos e experiências de bondade ou de sofrimento distantes fisicamente de mim, para rezar juntos e, juntos, buscar o bem na descoberta daquilo que nos une, então é um recurso. Assim, podemos passar do diagnóstico à terapia: abrir o caminho ao diálogo, ao encontro, ao sorriso, ao carinho... Esta é a rede que queremos: uma rede feita, não para capturar, mas para libertar, para preservar uma comunhão de pessoas livres. A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos gostos [«like»], mas na verdade, no «ámen» com que cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros”.

Papa Francisco

terça-feira, 14 de maio de 2019

SEMANA DA VIDA


O Valor da Vida não se questiona. A história da humanidade assim o confirma. Até mesmo nos momentos mais violentos e mais dramáticos, esteve sempre em causa a defesa da Vida de um alguém, isolado ou coletivo.
O Valor da Vida não se adjetiva. Não há palavras que descrevam o valor da vida de cada um, para cada um.
O Valor da Vida ultrapassa toda a beleza, porque o conceito de beleza é tão pessoal, tão evolutivo, tão perene.
O Valor da Vida ultrapassa todos os excessos verbais, porque escapa até mesmo à imensa criatividade do homem. Faltam as palavras, quando queremos definir o valor da Vida.
O Valor da Vida não se circunscreve no tempo. Tem um passado, repleto de vidas que nos trouxeram ao nosso presente, que geram outras vidas, vidas essas que projetam o futuro. Na vida de cada um, há o mistério de um passado e o mistério de um futuro, que se constrói na verdade do presente.
O Valor da Vida como que cresce à sombra de árvores frondosas, com troncos sólidos e robustos. Árvores que nos revelam como são os pequenos galhos que sustentam as folhas que crescem com o tempo e são os ramos ligeiramente mais fortes que alimentam os galhos. E estes ramos entroncam na solidez de um tronco, que pode ser robusto e seguro, ou pode ser agitado pelo vento, capaz de se dobrar, mas não de se partir.

Se pensarmos nestas árvores frondosas como famílias com gente de carne e osso, percebemos melhor como pode o Valor da Vida crescer no seio de uma Família. Famílias, onde há folhas tão diferentes, umas frágeis outras robustas; onde há galhos que se esgalham e outros que são lançados por uma brisa ou um vendaval; onde há ramos que se partem e outros que resistem a todas as tempestades. E no tronco, corre a seiva, que a todos alimenta, que é vital. O tronco onde se encostam cansaços, onde se sussurram memórias, palavras de amor, histórias antigas da Família.
À sombra de uma Família, todos cabem, todos crescem, todos vivem. À sombra de uma Família, há passado e presente e futuro. À sombra de uma Família, o vento sopra, a chuva parte ramos e galhos, pode até despi- -la de todas as folhas, mas está lá, pronta a viver longos Invernos e a renascer em cada Primavera; pronta a mostrar a beleza das folhas caídas no Outono e a suportar o sol implacável de cada Verão.
Se pensarmos que a Igreja é esta Família, capaz de dar sombras a quem foge do sol, capaz de ser tronco onde se descansam costas cansadas, capaz de deixar ver o céu, por entre copas frondosas, de deixar ouvir brisas suaves e pássaros felizes; se pensarmos que a Igreja é esta Família onde todos têm o seu lugar, onde há ramos antigos, cheios de rugas e folhas tenras, que nascem a cada Primavera, se pensarmos assim, não precisamos de procurar palavras, nem de enumerar grandes questões, não nos afligimos com o tempo que passa, inquietos com o futuro, melancólicos com o passado, acabando por deixar passar o presente, como nos passa a areia pelas mãos, em praias repletas ou em desertos vazios.

Precisamos de voltar à beleza do que nos rodeia, para entendermos a Vida, para a defendermos com toda a alma, para nos empenharmos na construção do mundo que Deus nos entregou; capazes de tanto que somos, seremos também capazes de entender que a defesa da Vida passa claramente, pela defesa da Família e, de um modo tão atual e pertinente, pela atenção aos mais novos?...
O Papa Francisco foi claro quando no Panamá afirmou que os jovens não são Futuro mas Presente. Esta sua certeza leva-nos a refletir sobre as palavras do Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família, D. Joaquim Mendes, na sua intervenção, aquando da 14.ª Congregação sinodal: “Creio que não se pode educar e evangelizar sem chegar ao coração, e para chegar ao coração é preciso amar, acolher incondicionalmente, proporcionar uma experiência impregnada de um verdadeiro espírito de família”.
E só uma “Igreja-família” é capaz de dar resposta aos anseios dos jovens, assinalando que muitos se sentem “órfãos” porque “Há um sentimento de orfandade em muitos jovens. São numerosos os que nasceram e cresceram numa família desestruturada, que não sabem o que é uma família, que foram abandonados, que não foram amados”.
Se pensarmos na importância decisiva da Família na defesa da Vida, cujo valor não se questiona, nem se adjetiva, nem se circunscreve num tempo determinado; se sentirmos a Igreja como verdadeira Família de Famílias; se acreditarmos que : “Só um testemunho de amor materno de uma Igreja-família pode tocar o coração dos jovens e abrir caminho para o seu encontro pessoal com Jesus, com o Evangelho, conduzir à descoberta do sentido da vida, da alegria do serviço e do compromisso na transformação da própria Igreja e sociedade.” (D. Joaquim Mendes, na sua intervenção, a quando da 14.ª Congregação Sinodal)
Se deixarmos que todas estas palavras nos toquem o coração, a Semana da Vida vai para lá dos limites do seu tempo, desafia-nos enquanto Famílias, inquieta-nos enquanto cristãos.
Na Unidade Pastoral de Orgens e São Salvador, que tem os Padres Vicentinos como párocos, decorre no domingo 19 de maio o Dia da Família. 

segunda-feira, 6 de maio de 2019

SEMANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES


Mensagem 56.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações (12 de maio 2019)

Queridos irmãos e irmãs!

Depois da experiência vivaz e fecunda, em outubro passado, do Sínodo dedicado aos jovens, celebramos recentemente no Panamá a XXXIV Jornada Mundial da Juventude. Dois grandes eventos que permitiram à Igreja prestar ouvidos à voz do Espírito e também à vida dos jovens, aos seus interrogativos, às canseiras que os sobrecarregam e às esperanças que neles vivem.

Neste Dia Mundial de Oração pelas Vocações, retomando precisamente aquilo que pude partilhar com os jovens no Panamá, desejo refletir sobre a chamada do Senhor enquanto nos torna portadores duma promessa e, ao mesmo tempo, nos pede a coragem de arriscar com Ele e por Ele. Quero deter-me brevemente sobre estes dois aspetos – a promessa e o risco –, contemplando juntamente convosco a cena evangélica da vocação dos primeiros discípulos junto do lago da Galileia (cf. Mc 1, 16-20).

Dois pares de irmãos – Simão e André, juntamente com Tiago e João – estão ocupados na sua faina diária de pescadores. Nesta cansativa profissão, aprenderam as leis da natureza, desafiando-as quando os ventos eram contrários e as ondas agitavam os barcos. Em certos dias, a pesca abundante recompensava da árdua fadiga, mas, outras vezes, o trabalho duma noite inteira não bastava para encher as redes e voltava-se para a margem cansados e desiludidos.
Estas são as situações comuns da vida, onde cada um de nós se confronta com os desejos que traz no coração, se empenha em atividades que – espera – possam ser frutuosas, se adentra num «mar» de possibilidades sem conta à procura da rota certa capaz de satisfazer a sua sede de felicidade. Às vezes goza-se duma pesca boa, enquanto noutras é preciso armar-se de coragem para governar um barco sacudido pelas ondas, ou lidar com a frustração de estar com as redes vazias.

Como na história de cada vocação, também neste caso acontece um encontro. Jesus vai pelo caminho, vê aqueles pescadores e aproxima-Se… Sucedeu assim com a pessoa que escolhemos para compartilhar a vida no matrimónio, ou quando sentimos o fascínio da vida consagrada: vivemos a surpresa dum encontro e, naquele momento, vislumbramos a promessa duma alegria capaz de saciar a nossa vida. De igual modo naquele dia, junto do lago da Galileia, Jesus foi ao encontro daqueles pescadores, quebrando a «paralisia da normalidade» (Homilia no XXII Dia Mundial da Vida Consagrada, 2/II/2018). E não tardou a fazer-lhes uma promessa: «Farei de vós pescadores de homens» (Mc 1, 17).
Sendo assim, o chamamento do Senhor não é uma ingerência de Deus na nossa liberdade; não é uma «jaula» ou um peso que nos é colocado às costas. Pelo contrário, é a iniciativa amorosa com que Deus vem ao nosso encontro e nos convida a entrar num grande projeto, do qual nos quer tornar participantes, apresentando-nos o horizonte dum mar mais amplo e duma pesca superabundante.

Com efeito, o desejo de Deus é que a nossa vida não se torne prisioneira do banal, não se deixe arrastar por inércia nos hábitos de todos os dias, nem permaneça inerte perante aquelas opções que lhe poderiam dar significado. O Senhor não quer que nos resignemos a viver o dia-a-dia, pensando que afinal de contas não há nada por que valha a pena comprometer-se apaixonadamente e apagando a inquietação interior de procurar novas rotas para a nossa navegação. Se às vezes nos faz experimentar uma «pesca miraculosa», é porque nos quer fazer descobrir que cada um de nós é chamado – de diferentes modos – para algo de grande, e que a vida não deve ficar presa nas redes do sem-sentido e daquilo que anestesia o coração. Em suma, a vocação é um convite a não ficar parado na praia com as redes na mão, mas seguir Jesus pelo caminho que Ele pensou para nós, para a nossa felicidade e para o bem daqueles que nos rodeiam.

Naturalmente, abraçar esta promessa requer a coragem de arriscar uma escolha. Sentindo-se chamados por Ele a tomar parte num sonho maior, os primeiros discípulos, «deixando logo as redes, seguiram-No» (Mc 1, 18). Isto significa que, para aceitar a chamada do Senhor, é preciso deixar-se envolver totalmente e correr o risco de enfrentar um desafio inédito; é preciso deixar tudo o que nos poderia manter amarrados ao nosso pequeno barco, impedindo-nos de fazer uma escolha definitiva; é-nos pedida a audácia que nos impele com força a descobrir o projeto que Deus tem para a nossa vida. Substancialmente, quando estamos colocados perante o vasto mar da vocação, não podemos ficar a reparar as nossas redes no barco que nos dá segurança, mas devemos fiar-nos da promessa do Senhor.

Penso, antes de mais nada, no chamamento à vida cristã, que todos recebemos com o Batismo e que nos lembra como a nossa vida não é fruto do acaso, mas uma dádiva a filhos amados pelo Senhor, reunidos na grande família da Igreja. É precisamente na comunidade eclesial que nasce e se desenvolve a existência cristã, sobretudo por meio da Liturgia que nos introduz na escuta da Palavra de Deus e na graça dos Sacramentos; é nela que somos, desde tenra idade, iniciados na arte da oração e na partilha fraterna. Precisamente porque nos gera para a vida nova e nos leva a Cristo, a Igreja é nossa mãe; por isso devemos amá-la, mesmo quando vislumbramos no seu rosto as rugas da fragilidade e do pecado, e devemos contribuir para a tornar cada vez mais bela e luminosa, para que possa ser um testemunho do amor de Deus no mundo.
Depois, a vida cristã encontra a sua expressão naquelas opções que, enquanto conferem uma direção concreta à nossa navegação, contribuem também para o crescimento do Reino de Deus na sociedade. Penso na opção de se casar em Cristo e formar uma família, bem como nas outras vocações ligadas ao mundo do trabalho e das profissões, no compromisso no campo da caridade e da solidariedade, nas responsabilidades sociais e políticas, etc. Trata-se de vocações que nos tornam portadores duma promessa de bem, amor e justiça, não só para nós mesmos, mas também para os contextos sociais e culturais onde vivemos, que precisam de cristãos corajosos e testemunhas autênticas do Reino de Deus.

No encontro com o Senhor, alguém pode sentir o fascínio duma chamada à vida consagrada ou ao sacerdócio ordenado. Trata-se duma descoberta que entusiasma e, ao mesmo tempo, assusta, sentindo-se chamado a tornar-se «pescador de homens» no barco da Igreja através duma oferta total de si mesmo e do compromisso dum serviço fiel ao Evangelho e aos irmãos. Esta escolha inclui o risco de deixar tudo para seguir o Senhor e de consagrar-se completamente a Ele para colaborar na sua obra. Muitas resistências interiores podem obstaculizar uma tal decisão, mas também, em certos contextos muito secularizados onde parece não haver lugar para Deus e o Evangelho, pode-se desanimar e cair no «cansaço da esperança» (Homilia na Missa com sacerdotes, pessoas consagradas e movimentos laicais, Panamá, 26/I/2019).
E, todavia, não há alegria maior do que arriscar a vida pelo Senhor! Particularmente a vós, jovens, gostaria de dizer: não sejais surdos ao chamamento do Senhor! Se Ele vos chamar por esta estrada, não vos oponhais e confiai n’Ele. Não vos deixeis contagiar pelo medo, que nos paralisa à vista dos altos cumes que o Senhor nos propõe. Lembrai-vos sempre que o Senhor, àqueles que deixam as redes e o barco para O seguir, promete a alegria duma vida nova, que enche o coração e anima o caminho.

Queridos amigos, nem sempre é fácil discernir a própria vocação e orientar justamente a vida. Por isso, há necessidade dum renovado esforço por parte de toda a Igreja – sacerdotes, religiosos, animadores pastorais, educadores – para que se proporcionem, sobretudo aos jovens, ocasiões de escuta e discernimento. Há necessidade duma pastoral juvenil e vocacional que ajude a descobrir o projeto de Deus, especialmente através da oração, meditação da Palavra de Deus, adoração eucarística e direção espiritual.

Como várias vezes se assinalou durante a Jornada Mundial da Juventude do Panamá, precisamos de olhar para Maria. Na história daquela jovem, a vocação também foi uma promessa e, simultaneamente, um risco. A sua missão não foi fácil, mas Ela não permitiu que o medo A vencesse. O d’Ela «foi o “sim” de quem quer comprometer-se e arriscar, de quem quer apostar tudo, sem ter outra garantia para além da certeza de saber que é portadora duma promessa. Pergunto a cada um de vós: sentes-te portador duma promessa? Que promessa trago no meu coração, devendo dar-lhe continuidade? Maria teria, sem dúvida, uma missão difícil, mas as dificuldades não eram motivo para dizer “não”. Com certeza teria complicações, mas não haveriam de ser idênticas às que se verificam quando a covardia nos paralisa por não vermos, antecipadamente, tudo claro ou garantido» (Vigília com os jovens, Panamá, 26/I/2019).

Neste Dia, unimo-nos em oração pedindo ao Senhor que nos faça descobrir o seu projeto de amor para a nossa vida, e que nos dê a coragem de arriscar no caminho que Ele, desde sempre, pensou para nós.

PAPA FRANCISCO