quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Dia Mundial dos Pobres

No dia 19 de novembro deste ano, a Igreja Católica convida a refletir sobre o primeiro “Dia Mundial dos Pobres”. O tema da reflexão é “Não amemos com palavras, mas com obras”. O “Dia Mundial dos Pobres” foi instituído pelo Papa Francisco, por ocasião da conclusão do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, por meio da Carta Apostólica intitulada “Misericordia et Misera”. A celebração da data e as ações concretas sempre acontecerão no dia 19 de novembro de cada ano.

Para nós Vicentinos, a instituição do “Dia Mundial dos Pobres” ecoa profeticamente sobre o cuidado que devemos ter pelo ser humano empobrecido. A pobreza de muitos dos nossos semelhantes não é um assunto teórico, mas sim uma realidade gritante e palpável. Não podemos ter uma visão simplista desta realidade; a nossa visão deve ser holística, pois consiste na visão do ser humano feito à imagem e semelhança de Deus. Este dia sinaliza, fortemente, para que cuidemos concretamente com mais amor das nossas atividades vicentinas a favor dos menos afortunados, pois uma das maiores pobrezas existentes é justamente a falta de amor.
Para o Papa, a expectativa é que este dia sirva de estímulo para reagir à cultura da indiferença, do descarte, do desperdício e da exclusão, e a assumir a “cultura do encontro”, com gestos concretos de oração e de caridade. Para nós cristãos e para o mundo, é necessária uma maior evangelização dos pobres. Os pobres – diz Francisco – “não são um problema, mas um recurso para acolher e viver a essência do Evangelho”.
Segundo o Banco Mundial, a pobreza extrema chega a 766 milhões de pessoas. Para as organizações humanitárias, as questões sobre a desigualdade na distribuição da riqueza no mundo são conhecidas, mas a frieza dos números dá-nos uma perspetiva mais real e dramática deste tema: as 85 pessoas mais ricas do planeta acumulam a mesma riqueza que as 3,5 bilhões mais pobres; 46% da riqueza do mundo é detida por 1% das famílias mais ricas; 7 em cada 10 pessoas vivem em países onde a desigualdade na distribuição da riqueza se tem agravado nos últimos 30 anos (dados do Fórum Económico Mundial).
Além do aspeto material, não podemos deixar de mencionar o grande desafio que é a pobreza espiritual. Dos 7 bilhões de habitantes da Terra, somente 2 bilhões se declaram como cristãos. Talvez essa seja a razão de o mundo estar passando por tantas dificuldades, entre guerras, fome, perseguições, doenças e outros males modernos. “A maior das pobrezas é a falta de Cristo”, já nos ensinou o Papa Francisco.
A Igreja Católica sempre lutou, desde as suas origens, contra as formas geradoras de pobreza. O Papa Francisco aponta ainda, que a luta contra a miséria “material, moral e espiritual” deve ser a prioridade da Igreja. “Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência de uma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha”.
A mensagem do Papa sublinha que a miséria “não coincide com a pobreza”, mas é “a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança”. “Quantas pessoas se veem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde”, lamenta o Papa.
Nas relações humanas e sociais, a defesa dos direitos individuais pode deixar os pobres ainda mais distantes do reconhecimento dos seus direitos básicos e da sua dignidade humana. A pobreza é, em grande parte, consequência da falta de verdadeira solidariedade, justiça social e espírito cristão. O mesmo pode acontecer entre os povos. O Papa Paulo VI, na Encíclica “Populorum Progressio” (1966), sobre o desenvolvimento dos povos, já recomendava aos países “mais privilegiados” a renúncia a algumas de suas vantagens para porem, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos “povos mais pobres”. Em vez de insistirem na afirmação dos seus próprios direitos, as economias mais abastadas deveriam estar atentas ao clamor das populações mais pobres (cf. nº 289).
Seria bom aproveitar a data do “Dia Mundial dos Pobres” para convidar todos os Vicentinos do mundo a refletirem sobre a situação da exclusão, vulnerabilidade e miséria – espiritual e material – em que estamos inseridos. Desde a origem do nosso carisma, os nossos fundadores deram-nos este fim e ação: rezar e trabalhar pela eliminação das diversas formas de pobreza, numa linha promocional e de dignidade dos pobres, para a integração da vida destes em comunidade, levando-lhes a alegria do Evangelho. Já nos dizia São Vicente de Paulo: “Dá-me uma pessoa de oração, e ela será capaz de tudo”.
Que o “Dia Mundial dos Pobres” não seja apenas um dia, mas uma ação de ajuda fraterna e solidária diária, constante, pelo bem da humanidade e pela honra e glória de Cristo.
Encerro esta mensagem citando um trecho muito interessante da mensagem do Papa Francisco sobre a celebração do “Dia Mundial dos Pobres” em 2017: “Não pensemos nos pobres apenas como destinatários de uma boa obra de voluntariado, que se pratica uma vez por semana, ou, menos ainda, de gestos improvisados de boa vontade para pôr a consciência em paz. Estas experiências, embora válidas e úteis (a fim de sensibilizar para as necessidades de tantos irmãos e para as injustiças que frequentemente são a sua causa), deveriam abrir-nos a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne um estilo de vida”.


Autor: Renato Lima de Oliveira