CONGREGAZIONE DELLA MISSIONE CURIA
GENERALIZIA
SUPERIORE GENERALE
A todos os membros da Família Vicentina
Queridos irmãos e irmãs,
A
graça e a paz de Jesus estejam sempre connosco!
Ao iniciar esta carta, gostaria de aproveitar
a ocasião para agradecer-lhes de todo coração pelos numerosos votos natalinos e
de feliz Ano Novo que recebi pelos correios, por e-mail e através dos
diferentes meios de comunicação social. Admiro o testemunho e o serviço heroico
de todos, nos momentos difíceis e nas longínquas regiões do mundo. Meu coração
está com cada um, acompanhando-os todos os dias com os meus pensamentos e
minhas orações.
O tempo da Quaresma está próximo!
Na Carta do Advento, meditei sobre a
“Encarnação” como um dos principais mistérios da espiritualidade de São Vicente
de Paulo. Na Carta da Quaresma deste ano, gostaria de refletir sobre o mistério
da “Santíssima Trindade”, como outro dos principais mistérios da
espiritualidade de São Vicente.
São Vicente escreveu nas Regras comuns da
Congregação da Missão: “Como, segundo a Bula de ereção da nossa Congregação,
devemos venerar de maneira particular os inefáveis mistérios da Santíssima
Trindade e da Encarnação, procuraremos cumprir isto com o maior cuidado e, se
puder ser, de todas as maneiras, mas principalmente executando estas três
coisas: 1ª fazendo frequentemente do íntimo do coração atos de fé e religião
sobre estes mistérios; 2ª oferecendo todos os dias à sua glória algumas orações
e obras pias e principalmente celebrando as suas festas com solenidade e com a
maior devoção que pudermos; 3ª trabalhando com toda vigilância para, com
instruções e exemplos nossos, infiltrar nos ânimos dos povos o conhecimento,
honra e culto deles” (Regras Comuns da Congregação da Missão, X, 2).
Nas Constituições da Congregação da Missão,
podemos ler:
“Como testemunhas e anunciadores do amor de
Deus, devemos ter devoção e prestar culto, de modo especial, aos mistérios da
Trindade e da Encarnação” (Constituições IV, 48). Qual é a mensagem da
Santíssima Trindade para mim, pessoalmente, para a Comunidade onde vivo, a
Congregação ou o grupo ao qual pertenço, para minha família, para as pessoas às
quais Jesus me envia a servir?
Jesus nos ajuda a compreender a Santíssima
Trindade: a identidade, a missão e o desígnio do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. Jesus nos ajuda a compreender a relação que existe entre as três
Pessoas, o vínculo íntimo que as une, a influência da Trindade tanto sobre cada
pessoa, individualmente, quanto sobre a sociedade como um todo.
À medida que, com a graça de Deus,
descobrimos e desenvolvemos um vínculo indissolúvel entre a Trindade e cada
pessoa, entre a Trindade e a Comunidade, entre a Trindade e a humanidade,
aproximamo-nos cada vez mais do modelo perfeito de “relações” que são os
componentes fundamentais de nossas vidas. Nós não fomos criados como ilhas,
separadas umas das outras, mas sim, como seres sociais e como família, de tal
forma que, no âmago do nosso ser, somos um com Deus, ou seja, um com a Trindade
e, um entre nós.
A Trindade permanece um mistério para nós.
Jesus nos transmitiu o que sabemos sobre o Pai, o Filho e o Espírito. Jesus nos
apresentou a Trindade como o modelo perfeito de “relações”.
Nossa reflexão sobre a Trindade deve estar
acompanhada pela vontade e o objetivo de encarnar este modelo perfeito de
“relações” na situação da vida concreta na qual me encontro, na Comunidade onde
vivo, na Congregação ou no grupo ao qual pertenço, na minha família, com as
pessoas às quais Jesus me envia a servir.
A Santíssima Trindade é o modelo perfeito
de “relações”! Jesus nos mostra o ideal.
A relação recíproca entre o Pai e o Filho.
A relação recíproca entre o Pai e o Espírito. A relação recíproca entre o Filho
e o Espírito. A relação Pai, Filho e Espírito.
O que podemos contemplar nestas “relações”?
1) Podemos ver que a atenção está sempre
voltada para a outra pessoa e não sobre si mesma. 2) Podemos ver que a
prioridade é sempre dada à outra pessoa e não a si mesma. 3) Podemos ver que o
louvor, a gratidão, a admiração são sempre dados à outra pessoa e não a si
mesma. 4) Podemos ver que cada uma das três Pessoas da Trindade expressa sempre
a necessidade de colaborar com a outra para realizar a missão. 5) Podemos ver
que cada uma das três Pessoas da Trindade sempre expressa claramente que agir
sozinha seria insuficiente e ineficaz para cada uma delas.
O que o modelo das relações no íntimo da
Trindade revela sobre a minha própria vida: a) minha relação com Deus, b) minha
relação com a Comunidade, c) minha relação com minha família, d) minha relação
com aqueles aos quais Jesus me envia para servir?
Dado que nós não somos ilhas, mas
pertencemos à família humana, as “relações” são uma parte inseparável da nossa
missão. O modelo ideal da Trindade que Jesus nos deixou é o modelo a seguir.
São Vicente de Paulo fez do modelo ideal da
Santíssima Trindade, um dos fundamentos de sua espiritualidade. Neste tempo de
Quaresma, somos convidados a avançar para aproximarmo-nos do modelo perfeito de
“relações” que Jesus nos oferece.
Se cada um de nós der prioridade ao outro,
colocá-lo antes de si mesmo, antes dos próprios desejos, dos próprios
interesses, antes das próprias aspirações; se cada um prestar atenção ao outro,
compartilhar o tempo, os pensamentos, as experiências, as dificuldades, as
dúvidas, os sofrimentos, as alegrias, etc., seguindo o modelo perfeito de
“relações da Trindade”, então alguém fará o mesmo por cada um de nós. Assim,
ganhará forma um conjunto maravilhoso e milagroso de relações onde, juntos,
realizaremos a missão confiada por Jesus da melhor maneira e o mais eficaz
possível.
Para nos ajudar a meditar sobre este modelo
perfeito de “relações” sirvamo-nos de duas outras passagens de São Vicente
sobre a Trindade, assim como de uma breve reflexão do Padre Getúlio Mota Grossi,
CM:
“Firmemo-nos nesse espírito, se quisermos
ter em nós a imagem da adorável Trindade, se quisermos ter uma santa semelhança
com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo. O que é que opera a unidade e a
pluralidade uniforme em Deus senão a igualdade e a distinção das três pessoas?
E o que o seu amor engendra senão a sua semelhança? E se entre eles não
reinasse o amor, que coisa existiria de amável, diz o bem-aventurado Bispo de
Genebra. A uniformidade existe, portanto, na Santíssima Trindade: o que deseja
o Pai, o Filho também o quer; o que faz o Espírito Santo, fazem-no o Pai e o
Filho. Agem do mesmo modo. Têm um só e mesmo poder e uma só e mesma operação.
Aí temos a origem da perfeição e nosso modelo. Tornemo-nos uniformes. Seremos
muitos como se fôssemos somente um, e teremos a santa união na pluralidade. Se
já as possuímos em parte e não o bastante, peçamos a Deus o que nos falta, e
vejamos em que nos diferenciamos uns dos outros a fim de procurar
assemelhar-nos todos e nos igualar, pois a semelhança e a igualdade geram o
amor, e o amor, tende à unidade. Esforcemo-nos todos por ter os mesmos afetos e
a mesma acolhida às coisas que se fazem ou se permite que sejam feitas entre
nós” (Conferência 206 de 23 de maio de 1659 sobre a uniformidade, SV XII,
261-262).
“Enfim, vivei juntas, como tendo um só
coração e uma só alma (Atos, 4,32), de modo que, por essa união de espírito,
sejais uma verdadeira imagem da unidade de Deus, como vosso número representa
as Três Pessoas da Santíssima Trindade. Para isso, rogo ao Espírito Santo, que
é a união do Pai e do Filho, seja igualmente vosso espírito; vos dê uma
profunda paz, nas contradições e nas dificuldades que não podem deixar de ser
frequentes junto aos pobres. Lembrai-vos também que ali está vossa cruz, com a
qual Nosso Senhor vos chama para si e seu repouso. Todo o mundo aprecia o vosso
trabalho e as pessoas de bem não descobrem na terra outro trabalho mais honroso
nem mais santo, quando é feito com devoção” (Carta de 30 de julho de 1651 à
Irmã Ana Hardemont, em Hennebont, SV, IV, pág. 278-279).
A devoção de São Vicente à Santíssima
Trindade não era um exercício intelectual, mas um apelo de seu coração. Ela o
conduziu e nos conduz, enquanto Congregação que ainda vive o carisma do
Fundador, a uma dupla experiência:
a) Imitar as relações entre as três
Pessoas. “Como Igreja e com a própria Igreja, é na Trindade que a Congregação
encontra o supremo princípio de sua ação e de sua vida” (Constituição II, 20).
Somos chamados a ser a imagem da Trindade, Deus-Amor misericordioso e
compassivo (cf. Conferência 152 de 6 de agosto de [1656] sobre o Espírito de
Compaixão e de Misericórdia, Coste XI, pág. 340), Deus dos pobres, Deus dos
últimos, dos mais frágeis, aos quais somos destinados pelo nosso carisma. Isto
vale para nós, vale para as Filhas da Caridade e toda a Família Vicentina.
Chamados à unidade no amor, à uniformidade
na pluralidade, à comunhão de vida, à união mútua na diversidade dos dons,
animados pelo Espírito Santo; enviados como Jesus à caridade missionária
evangelizadora dos pobres; um carisma inspirado pelo Espírito a São Vicente e
herdado do Santo Fundador por nós, como dom à Companhia, somos desafiados à
fidelidade criativa ao carisma, no seguimento de Jesus, Evangelizador dos
pobres.
b) Consequentemente, nossa devoção à
Trindade, como a de São Vicente deve estar indissoluvelmente ligada à missão
(cf. Conferência 118 de 23 de maio de 1655, repetição da oração, Coste XI,
págs. 180-182), ao anúncio do mistério do amor de Deus pelos pobres para
salvá-los (cf. ibid., pág. 181). O Verbo Encarnado enviado pelo amor do Pai
(cf. Jo 3, 16), concebido pelo Espírito Santo (cf. Lc 1,35), no seio da Virgem
Maria e ungido pelo mesmo Espírito para anunciar a Boa-Nova aos pobres. No
rosto de Jesus, Verbo Encarnado, presente nos pobres, São Vicente viu a mais
perfeita manifestação do amor de Deus (Jo 3,16; 14,9), o amor privilegiado de
Deus Uno e Trino aos últimos deste mundo (Getúlio Mota Grossi, CM). Celebramos o aniversário dos 400 anos do
carisma de São Vicente de Paulo. Que este ano jubilar nos traga abundantes
frutos! Com uma total confiança na Providência, pela intercessão de Nossa
Senhora da Medalha Milagrosa, de São Vicente de Paulo e todos os santos e
bem-aventurados da Família Vicentina, prossigamos o caminho interior rumo a nós
mesmos, e exterior rumo as nossas Comunidades, nossa família e as pessoas às
quais Jesus nos envia a servir, em direção àqueles que talvez ainda não
conheçam o carisma ou àqueles lugares onde o carisma ainda não criou raízes.
Espero e rezo para que as celebrações da
Semana Santa, da Páscoa e do tempo pascal deste ano, tragam consigo um aumento
de alegria e de sentido para cada um de nós e para nossa missão ao mesmo tempo
que meditamos sobre a Trindade e caminhamos em direção ao modelo perfeito de
“relações”. Continuemos a rezar uns
pelos outros!
Seu irmão em São Vicente,
Tomaž Mavrič, CM Superior geral
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