domingo, 3 de fevereiro de 2013

A Páscoa de um Missionário Vicentino




O Pe. Joaquim Modesto Coelho Fernandes, nasceu em Regilde, concelho de Felgueiras. Após ter concluído a instrução primária em Revinhade, foi para a Escola Apostólica, em Oleiros, Felgueiras.

Começou o noviciado a 19 de Julho de 1949, em Pombeiro e Espanha. Foi ordenado sacerdote, na Sé do Porto, a 4 de Agosto de 1957, pelo bispo D. António Ferreira Gomes. Partiu para Moçambique a 1 de Setembro de 1957, onde permaneceu até 2006.

Em Moçambique foi professor em Magude, missionário em Chilembene, Wanetze e Sabié, entre 1958 e 1976, viveu com as populações de Magude e Mapulanguene os anos da Revolução e da guerra, e depois os tempos de paz entre 1977 e 2001. Integrou a equipa missionária do Chókwe até 2004, tendo sido depois Director das Filhas da Caridade.

Em Junho 2006 deu entrada no hospital Egas Moniz, em Lisboa, doente. Em Dezembro desse mesmo ano veio para o Lar Vicentino de Santa Quitério. O ano de 2007 marca o seu Jubileu: 50 anos como Missionário Vicentino, todos vividos em Moçambique. Em Agosto regressa lá para celebrar as Bodas de Ouro Sacerdotais.

A 2 de Fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor no Templo e dia do Consagrado partiu para a Casa do Pai. Terminou com muita coragem umaluta contra a doença. O seu corpo esteve em repouso na Capela do Lar Vicentino de Santa Quitéria-Felgueiras, de onde foi transladado para Santa Comba, Regilde, neste domingo, para aí ser celebrada Missa exequial. O seu corpo ficou sepultado no cemitério local, segundo sua vontade expressa.
Em Memória do P. Modesto

Apresentamos uma entrevista dada ao Lar dos Estudantes Vicentinos da estrada da Luz, Lisboa, quando em 2006, em tempo de recuperação, o P. Modesto com força e determinação, “aguentou” os tratamentos que o ajudaram a voltar a Moçambique, a sua terra de Missão. Foi entrevistador o seminarista, agora P. Bruno. O Senhor da Vida, concedeu-lhe mais 7 anos para viver e testemunhar a sua vocação missionária.

O P. Modesto encontra-se há algum tempo em Portugal, a recuperar das suas “maleitas”. É na casa Central dos Irmãos de S. João de Deus, em Lisboa, que se encontra a viver neste momento a, trabalhando duramente com as fisioterapeutas e enfermeiros, os quais o ajudam na sua recuperação. Por esta e outras razões achamos interessante fazer-lhe uma entrevista. Aqui fica o que o P. Modesto partilhou connosco.

Bruno - Que idade tem e de onde é?
P. Modesto - Nasci a 18 de Dezembro de 1931, na freguesia de Regilde, do concelho de Felgueiras. Caminho a passos largos para os 75 anos.

Bruno - Há quantos anos é sacerdote e quando foi para Moçambique?
P. Modesto - Fui ordenado presbítero a 4 de Agosto de 1957, já lá vão 49 anos! Nesse mesmo ano, a 1 de Novembro, cheguei a Moçambique, à Missão de S. Jerónimo de Magude.

Bruno - Que significa Moçambique para si?
P. Modesto - Para mim, Moçambique, o nosso campo missionário «Ad Gentes», foi a concretização de um sonho que alimentei desde os tempos da Escola Apostólica de Oleiros. À medida que os anos iam passando, cheios de acontecimentos que, directamente, vivi na carne e no espírito (sobretudo nos períodos da Revolução e da guerra), mais descobri a presença e a protecção de Deus e os apelos da Igreja no sofrimento do povo.
Se o meu sonho, desde os meus primeiros anos de formação, foi a evangelização «Ad Gentes», esse sonho nunca deixou de crescer e só atingirá a sua plenitude no descanso da eternidade no meio do povo que me acolheu e a quem dedico todos os sentimentos do meu coração.
Faço deste sonho a expressão da minha última vontade, cuja alteração livremente aceito se houver sinais legitimamente interpretados pela legítima autoridade que outra é a vontade de Deus.

Bruno - Que acha da recepção e tratamento que está a ter aqui em Portugal, de modo particular, no Hospital Egas Moniz?
P. Modesto - Agradeço o acolhimento e as atenções que todos os confrades me têm dedicado. Na verdade, o sofrimento é um laço de união e de fraternidade, de comunhão e de partilha do mesmo “sonho” missionário que nos anima na fidelidade a Cristo. Sem o vosso apoio, acredito que não teria a força de espírito para fazer esta caminhada que, para mim, é tão difícil como dolorosa. A cruz é para carregar até ao cimo do monte e, depois descansar, na certeza da fé, mesmo que seja em túmulo emprestado, no meio do povo que o Senhor me confiou ao longo de tantos anos.
Obrigado, irmãos, de cá e de lá, pela vossa solidariedade no amor de Cristo e espírito vicentino.
Cheguei na manhã de 26 de Junho e fui acolhido pelo Hospital Egas Moniz. À direcção do Hospital, corpo clínico e de enfermagem, terapeutas e auxiliares, a expressão da minha gratidão e muito obrigado. Além do profissionalismo de cada um, encontrei um amigo que muito me ajudou a fortalecer as minhas esperanças de, num futuro, mais ou menos próximo, poder regressar ao campo missionário, a razão e a força do meu “sonho”.

Bruno - E, aqui, nos Irmãos de S. João de Deus? A fisioterapia está a ajudá-lo?

P. Modesto - No dia 18 de Agosto, à noite, dei entrada na Residência de S. João de Deus, para um tratamento mais intensivo de fisioterapia. De 2ª a 6ª, praticamente, os dias estão cheios com exercícios terapêuticos. Graças ao profissionalismo e ao interesse que demonstram na minha recuperação, embora lenta e dolorosa, espero voltar a andar. Deixo, aqui, a expressão dos meus sentimentos de gratidão por todos os serviços e atenções que me têm dispensado.

Bruno - Uma mensagem que queira deixar para a PPCM...

P. Modesto - Como mensagem aos jovens que, porventura, tenham sonhado com uma aventura missionária, apenas lhes direi que os sonhos da juventude não são para esquecer nem, muito menos, para abandonar como inúteis ou impossíveis. A História da Salvação é precisamente, a concretização dos sonhos dos nossos pais na fé – os patriarcas, e das promessas e bênção que Deus fez aos filhos de Jacob, o Povo de Deus. Os nossos sonhos, como chamamento de Deus, alimentados na fé e crescidos com a esperança, certamente nos dão o sentido da vida e as razões da nossa doação ao serviço dos outros, sobretudo, dos pobres e do Reino de Deus. Não tenhamos medo de “sonhar” até ao limite das nossas forças!...
28 de Setembro de 2006

Agradecemos ao P. Modesto a sua disponibilidade para partilhar connosco os seus sentimentos e tudo aquilo que está a viver desde que regressou a Portugal. Bem-haja P. Modesto!

Bruno
(in Estudantes Vicentinos da Luz – Lisboa)

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